Arte

Fotógrafa pernambucana vence Prêmio Pierre Verger com série que honra os Pretos Velhos da Jurema Sagrada

Artista celebra seu segundo prêmio nacional com 19 imagens da série “Canjerê dos Pretos Velhos na Jurema Sagrada”, produzidas ao longo de três anos de convivência contínua no Ilê Axé Oxalá Talabi, um terreiro afro-indígena de Pernambuco.
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Vinícius

Redator

Nacional

A fotógrafa pernambucana Wenny Mirielle Batista Misael (Uenni) venceu o Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger com a série “Canjerê dos Pretos Velhos na Jurema Sagrada”, consolidando seu nome na fotografia contemporânea ligada às ancestralidades afro-indígenas. Mulher negra, oriunda da periferia do Recife e primeira da família a romper o ciclo de trabalho doméstico, ela produziu, ao longo de três anos, 19 imagens feitas no Terreiro Ilê Axé Oxalá Talabi, em Paulista (PE). Dez dessas fotos já haviam vencido o Prêmio Mário de Andrade, tornando Uenni a primeira mulher negra a conquistar a categoria de série.
A obra nasce de uma convivência íntima com o terreiro e da relação profunda da artista com sua própria memória familiar. Inspirada pelos registros antigos feitos por sua avó — muitos deles deteriorados ou esquecidos — Uenni encontrou no ato de fotografar uma forma de preservar histórias e ancestralidades. O reencontro com imagens de um terreiro da década de 1990 despertou nela o desejo de documentar as tradições da Jurema Sagrada, construindo um trabalho contínuo, baseado em presença, afeto e respeito ao tempo dos rituais e das pessoas. Sua série fortalece a visibilidade das práticas afro-indígenas em um contexto de enfrentamento ao racismo religioso.
Com o prêmio, Uenni passa a integrar a exposição coletiva e o catálogo da 10ª edição do Pierre Verger, ampliando ainda mais sua circulação nacional. Nos últimos anos, ela também participou de mostras no Rio de Janeiro e no Agreste pernambucano, além de ministrar formações audiovisuais em territórios indígenas no Acre, experiências que enriquecem sua pesquisa visual e antropológica. O Terreiro Axé Talabi, cenário central de sua série, é um importante patrimônio cultural e espiritual de Pernambuco, reconhecido por diversas instituições e atuante na preservação das tradições do candomblé nagô e da Jurema Sagrada.

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